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sábado, 30 de janeiro de 2010

Barack Obama & ...


Hoje acordei com vontade de ser americana de verdade, pelo menos por uns dias. Explico...
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Assisti a fala de Barack OBAMA. Fiquei grudada na televisão até 3 horas da manhã, acompanhando os comentários e pensando, pensando...

Como eu gostaria de ter um presidente que soubesse falar sobre valores sem ser babaca, ou didático, que hoje em dia é quase a mesma coisa. Como eu gostaria de ser mais parecida com ele: - simples, direto e capaz de falar sobre os assuntos mais difíceis, entrar nas mazelas mais envergonhantes, sem se humilhar, sem humilhar o adversário. Como eu gostaria de ter a visão de Obama capaz de discriminar entre o que é efetivamente um problema a ser solucionado versus o que é o modo pessoal de enxergar um problema.

Obama literalmente arrancou, com seu bom senso e comunicação transparente, aplausos de todos os setores da sociedade americana - democratas, republicanos, militares, classe média, gays, imigrantes (legais e ilegais) desempregados, profissionais da saúde, da educação. E daqueles que não arrancou aplausos, certamente conquistou o respeito que merecem todos os adversários que lutam o bom combate. Naquela noite, eu também tive vontade de dizer I won't quit. Yes, we can be better persons. Yes, we can do a better world!

Ando meio decepcionada com o mundo e comigo mesma. Falta resiliência, falta coragem, falta aquela força que eu vi (talvez pelo desejo de encontrá-la em algum lugar) naquele sujeito magro, de voz pausada, as vezes meio brincalhão e noutras muito sério. Ando me sentindo meio vendida para o sistema e sem saber como encontrar a chamada linha do meio...aquela posição única que nos permite ser e estar sintonizados, ao mesmo tempo, com o mundo e com a identidade/individualidade última.

Assisti de novo o vídeo, reli cada frase, acho que vou ficar muito tempo com ele a minha volta.

Encontrei, no mundo web, uma imagem muito bonita de um artista plástico - Dylan Roscover. Atrevida, escrevi e pedi licença para usá-la neste blog...e ele deu! Fiquei pensando que a saída talvez seja fazer as conexões com quem pensa e sonha as mesmas coisas, compartilha preferências e formas de ver o mundo. Inevitável o desejo de voltar para Pandora,... ou Pasárgada... tanto faz, o que for mais próximo.

Volto a Obama e eu - Ele sabe manter o diálogo com os adversários e esta habilidade eu não tenho. Atrapalha-me a genética do mediterrâneo (mix de espanhol com calabres), e uma formação anarquista que não suporta hierarquias constituídas pelo poder por si só. Some-se a isto uma indignação atávica e temos uma mistura explosiva, digna de um Hércules enfurecido - bom de coração, mas incapaz de controlar sua cólera. Muitos trabalhos foram necessários para que meu heroi da infância aprendesse a arte do auto-domínio. Quantos trabalhos ainda me esperam?

Ando cansada, o tempo passou mais rápido do que eu imaginava e ainda há tanto por fazer, tanto por descobrir e aprender.

How can I go on
From day to day
Who can make me strong in every way
Where can I be safe
Where can I belong
In this great big world of sadness
How can I forget
Those beautiful dreams that we shared
They're lost and they're no where to be found
How can I go on ?

Vou pra casa ouvir Freddy Mercoury e Monserrat Cabalé no último volume...quem sabe assim eu consiga me escutar.

Há um longo caminho para aterrisar, vou me esforçar.Quem disse que o caminho do meio é fácil?

Sincerly yours,
Daisy
(*)Illustration for TIME Magazine by Dylan Roscover

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Pandora ou Pasárgada? Tanto faz, vou me embora!



Ilhas flutuantes como as do surrealista Magritte. Conexões orgânicas, espirituais. Blues,filtros azuis são usados o tempo todo em Pandora, contra o caqui-exército.Máquinas opressoras versus natureza idílica. O Vaticano se manifesta: Pandora é uma ameaça à representação do Deus hegemônico.Psicólogos, sociólogos, antropólogos de plantão constroem teses. Bem é mal e mal é bem, no mundo de forças antagônicas, que a cada dia sabe menos onde suas fronteiras estão. Avatar deprime seus fãs, atordoados na ambiguidade do mundo virtureal.

Vou me embora pra Pandora! Pasárgada talvez fique mais perto. Tanto faz, vou me embora pra qualquer lugar em que o rei seja outro. Que seja meu amigo e amigo de todos que por lá encontrarei.

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.

Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90