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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Horror absoluto


Ainda sou daquelas que acreditam que todos os bebes nascem lindos, risonhos e carinhosos. Nunca encontrei um bebê diferente disso nos seus primeiros dias de vida.

A vida, as circustâncias em interação com a genética, moldam o seu caráter, ampliam ou reduzem drasticamente suas possibilidades de ser no mundo.

Há escolhas,voces dirão, e, em certas circusntâncias, eu diria que não há tantas escolhas
assim. Lembrando Focault da minha juventude, é compreensível.E, ao mesmo tempo, inadmissível,inaceitável mas ainda assim, passível de ser entendido. Há uma certa lógica na
loucura.

Lembro de uma aula num daqueles manicômios da vida com o desafiador Prof Lacaz. O caso se resumia a - um homem tinha matado a mulher, a machadadas. Pacientemente ele nos fez levantar a história e percorrer os caminhos que levaram aquele infeliz indivíduo àquela situação limite. No final da anamenese, um de nós e de certa forma todos nós pensávamos: o paciente está internado porque aguentou essa mulher por tempo demais. Ele deveria ter posto um fim na situação muito antes!

Em seguida veio a parte mais difícil (e de certa forma a arte do professor): aos poucos fomos percebendo que eramos capazes dos mesmos sentimentos...Em situações extremas, quem sabe o que poderíamos fazer? Resgate da condição de humanos, no que há de melhor e no que há de pior da condição humana. Nem herois, nem salvavidas, nem médicos, nem monstros. Apenas humanos.Os acontecimentos na escola carioca, trouxeram de volta uma das melhores aulas da minha vida.

A insanidade social é nossa, é atributo do chamado desenvolvimento que fez do sucesso financeiro o maior valor e quem sabe o único valor, negando e banalizando todos os outros. É fruto de mecanismos de poder e opressão tão poderosos que não deixam aos excluídos nenhuma outra forma de expressão que não a mais absoluta violência, destilada em sua forma pura, sem motivo, sem causa,
sem bandeira.

Em Apocalipse Now de Francis Ford Copola, ganha a guerra quem for capaz de suportar o horror absoluto. Aqui, como em inúmeros outros casos repetidos pelo mundo, nem há uma guerra para ganhar. Trata-se apenas do horror, pelo horror em si, porque de antemão já se sabe que não há mais nada pelo que valha a pena lutar.

Gesto extremo de indivíduos levados à impotência e inexistência máxima. Chegamos lá, já somos capazes de reproduzir o que de pior o mundo desenvolvido criou. Somos humanos. Temos escolhas a fazer!

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